Estou sentado numa de minhas cadeiras. Ela está do lado da janela; de frente pra mesa e pro computador cujo mecho. É madrugada, eu teclo e ouço música, até que tudo fica estranho. Os fones parecem se afundar nos meus ouvidos, escuto como se estivesse em um avião decolando ou em um carro subindo uma serra (os sons meio distantes, o mundo parecendo estar em slow motion); meu peito estufa, enquanto muito ar entra, bruscamente, pelo meu nariz. Nisso, fico tonto e a visão, turva.
É aí que ela vem, a cena.
Fecho os olhos por um instante e pareço sonhar. Ou "pesadelar", se preferir. Um avião, visto de um ângulo externo, sobrevoa os céus. Suas turbinas barulhentas trabalham normalmente até começarem a pegar fogo. Elas queimam e queimam e o barulho ensurdecedor da aeronave aumenta. O avião perde um pouco de altitude. E mais um pouco. E queima. E o som aumenta. Se torna mais próximo. E queima. E desce. Quando percebo, ele está muito perto dos prédios e vem se aproximando de um local.
Minha casa.
Num voo rasante, o objeto cai e destrói tudo pela frente, afogando as janelas e as pessoas em destroços. Inclusive eu. Então o fogo se espalha; toma o que pode, não perdoa nada. As chamas se engrandecem e explodem.
E consigo finalmente inspirar.
E acordar.
Durante uma boa quantidade de madrugadas tive visões como essas. Faz algum tempo que tive a última, mas na semana passada sonhei que pegava uma arma na minha cozinha, introduzia fogos de artifício nela e, com uma máscara, parecendo um membro do ISIS, eu ia até minha sala. Meu pai (que por algum motivo depilava o cu) dizia que eu estava louco. Eu não dava a mínima e atirava, de minha janela aos céus. Minha mãe perguntava que porra é essa, meu pai arrancava mais um pentelho da bunda. Eu surtava: quebrava celular, pulava de um lado para o outro.
Alguns segundos depois, um avião caía e explodia ali perto.
Apesar de achar que morrerei em cinco dias, eu estou bem tranquilo.