"Tenho medo, essa casa é muita velha."
"Vem, deixa de ser boba"
Entram na casa.
"A porta tá boa pelo menos"
"Mas a fachada ta terrível"
"É" [...] "Nossa, quanta coisa!"
"Só não ta maior que a quantidade de poeira. A gente deveria ter trazido um espanador, não lanternas"
Andam pela casa, investigando com os olhos.
"Imagens fora do ar, links que não funcionam mais..."
"E os textos antiquados nas paredes? Alguém bem que podia dar um jeito nessa bagunça. É uma casa grande, valeria a pena. Dar uma festa aqui e tal."
"Eu já estive aqui, ainda reconheço algumas coisas. Adoraria vê-la limpa de novo, que voltasse a ser como era antes..."
"Você é doida. E ainda me carrega junto..."
Um barulho estranho.
"Quem ta aí?"
"Não é nada, acho que foi só a velhice escandalosa"
"Se tiver alguma coisa aqui mesmo, eu vou ficar..."
A outra corre para um canto.
"Olha, um caderninho" [...] "Tem o número da Pampers aqui."
"Legal?"
"Será que eu ligo?"
"Eu to me cagando aqui, então não é má ideia."
"Você é boba demais. Isso aqui são memórias. Posso ouvir e ler muitas coisas no meio dessas tralhas. Medos, risadas..."
"Que lindo, comovente... agora, podemos ir?"
Um barulho vem do fundo novamente. Lambuzada pela escuridão, uma figura aparece.
"Quem são vocês?! O que fazem na minha casa!?"
"Você não tinha me falado que morava gente aqui! Puta merda, vamo correr! Desculpa, viu senhor? Já estamos de saída, pode voltar pra sua tumba... ou caixão ou sei lá o que, tá? Um beijo na testa aí, amém."
Antes que se virasse, sua irmã a segurou.
"Espera!" [...] "Leon...?"
A figura recuou um pouco na escuridão.
"Leon é você?"
Silêncio.
"Como sabe meu nome, garota? Quem é você?"
"É você mesmo!"
"É ele mesmo! Peraí... quem é Leon?"
"Irmã, o Leon é o dono de tudo isso aqui. Foi ele que fez os nossos pesadelos se tornarem realidade!"
"Ah, ele é o corno... digo, legal! Muito prazer, viu?"
"Saiam daqui, meninas. Estou velho e doente. Os pesadelos só moram na minha cabeça agora."
"Não se preocupe, não pretendo insistir. Só queria mesmo rever este recinto. Fico feliz que você ainda esteja aqui. Já estamos de saída, tá? Fique bem"
"Graças a Deus! Um abraço, tiozinho!"
"Só quero dizer uma última coisa, seu Leon."
"Diga lá de fora, querida irmã, por tudo que há de mais sagrado... ai caralho, tem uma aranha no meu pé! Xô, xô!"
"Esta ainda é uma boa casa. Eu voltaria mais vezes."
Deram as costas. A figura ficou da escuridão olhando.
"Ah e olha"
"Meu Deus irmã, vamo logo..."
A menina abaixou um pouco a calça.
"Tô de Pampers."
"Mano, ce ta de fralda? Caralho, que porra é essa?"
"Tinha que vir visitar vestida a caráter né?"
"Caráter de maluca que fugiu do hospício? Se for, deu certo."
"Tchau, seu Leon".
Se foram.
Ficaram Leon e casa.
O velho mexendo nas tralhas, botando os bichos para caminharem. O ecossistema daquele lugar foi balançado depois de muito tempo.
"Será..."
pensou
"Será que devo tornar pesadelos reais de novo?"