sábado, 8 de fevereiro de 2014

O Jogo Maldito dos Smurfs

Um diário foi encontrado em uma casa onde ocorreu um estranho acontecimento: uma garota, de 17 anos, de nome Maria Augusta Soares, desapareceu sem deixar nenhuma pista. No momento, Maria estava sozinha em casa e a mesma se encontrava completamente trancada. No banheiro da casa, foi encontrado um gravador, cuja voz gravada ficou reconhecido pelos parentes ser da desaparecida. Em seu quarto, foi encontrado seu diário. Analisaram-nos, a fim de encontrar pistas que esclarecessem seu estranho desaparecimento.

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23 de novembro de 2011
Querido diário,
Hoje fui ao centro da cidade dar uma volta. Aproveitei que estava com tempo livre e adentrei na loja dos vendedores ambulantes. De imediato, percebi que um dos vendedores vendia jogos antigos de vídeo-game, em especial para Mega Drive e Super Nintendo. Como quando criança minha mãe dera a mim e ao meu irmão um Mega Drive 3, comecei a fitar os jogos à venda do vídeo-game em questão. Percebi ter vários jogos que eu já possuía, zerei-o infinitamente e posteriormente me livrei destes. Contudo, havia um jogo que eu já tivera e nunca consegui zerar: o jogo dos Smurfs. Para a época que eu joguei, achei-o incrivelmente difícil, apesar de ser tecnicamente bobo. Peguei-o e perguntei ao vendedor quanto custava. Ele fitou-me com um olhar de surpresa e perguntou a mim:

- Tem certeza de que quer levar esta fita?
- Algum problema com ela?
- É que... – dizia o vendedor, mas foi interrompido por uma cliente, que chamou a atenção para si
Outro vendedor, da mesma loja, mais novo que o primeiro, chegou até mim e me perguntou:
- Posso ajudar?
- Quero levar essa fita, mas parece que aquele senhor iria me dizer algo sobre ela!
Com um sorriso no rosto, ele respondeu-me:
- Não é nada, senhorita. Ele é meio senil. São dois reais, vai querer?

Achei estranho os acontecimentos, contudo, a vontade de jogar novamente aquele velho jogo acabou por me fazer comprá-lo. Retirei o dinheiro de minha bolsa, paguei-o, guardei a fita em seu lugar e parti, em direção a minha casa. Tão logo cheguei em casa, liguei meu velho vídeo-game e comecei a jogar a fita. Naquele instante, temi que a mesma não funcionasse, como acontecia rotineiramente no passado. Entretanto, para minha surpresa e felicidade, eis que ela funcionou. Logo, arrumei o jogo de MEDIUM para EASY e, em seguida, comecei a jogá-lo.
Joguei a primeira fase do jogo. E como era fácil. Em pouquíssimos minutos, passei pela fase no vilarejo dos Smurfs. Joguei a segunda e a terceira fase, respectivamente, na floresta e na ponte quebrada, do jogo na mesma facilidade que joguei a primeira fase. Quando criança, pensei que o jogo fosse difícil, todavia, crescida, o jogo se tornou fácil para mim.
Iria adentrar na quarta fase do jogo, quando minha mãe apareceu e me pediu para parar de jogar. Ela precisaria da TV da sala, a única que ainda ligava aquele obsoleto vídeo-game. Conversei com minha mãe se ela poderia esperar eu terminar a quarta fase. Assim, eu poderia pegar o password e não precisaria repetir as três primeiras fases. Entretanto, minha mãe foi irredutível e me obrigou a desligar o vídeo-game naquele instante. Fiquei furiosa e, enquanto desligava o vídeo-game, acabei por injuriar minha mãe, o que acabou deixando-a irritada e, assim, me colocou de castigo. Além de findar a noite no meu quarto, não poderei jogar vídeo-game durante uma semana.
E agora estou eu aqui: presa em meu quarto, sem poder ligar TV, computador, nada... queria dormir, mas estou sem sono. Estou doida para jogar The Smurfs novamente. Uma semana terei de esperar... que merda!
Bom, diário, vou deitar um pouco. Tentarei tirar o jogo e a vontade de jogá-lo da minha cabeça.

24 de novembro de 2011
Querido diário,
Cá estou eu novamente, presa em meu quarto por mais uma noite. Acordei pela manhã com uma vontade insana de jogar The Smurfs. Parecia viciada, ou possuída por um espírito insano por aquele jogo. Fui para a escola e, assim que voltei, aproveitei que a casa se encontrava vazio e liguei o vídeo-game. Queria passar da quarta fase. Pelo menos, assim, eu poderia ter o password que me dava a prerrogativa de não mais jogar aquelas quatro fases.
Estava indo bem, entretanto, estava tão absorta no jogo que acabei por não reparar minha mãe chegar do serviço para o almoço. Acabou pegando-me no flagra. Além de ouvir um sermão de quase meia hora, cá estou eu novamente: presa em meu quarto, além do fato de meu castigo para com o vídeo-game ter seu tempo aumentado em mais uma semana.
Acho que terei de esperar esse tempo passar...

4 de dezembro de 2011,
Quase nem consegui dormir os últimos dias pensando incessantemente no jogo The Smurfs. O que aquele jogo tem de tão especial que prendeu minha mente nele?
Minha mãe, ao perceber meu bom comportamento, acabou por deixar-me jogar vídeo-game novamente, desde que não mais a desobedecesse, ou lhe ofendesse. Liguei o vídeo-game e logo coloquei a fita do The Smurfs. Contudo, naquele instante, o vídeo-game não reconheceu a fita. Um suor frio começou a escorrer pelas curvas de meu corpo. Só faltava essa..., pensei, de imediato.
Assoprei a fita e a coloquei novamente. Desta vez, funcionou. Um alívio percorreu meu corpo. Liguei-o. Joguei as três primeiras fases facilmente, como sempre, e adentrei na quarta. Era novamente em uma floresta, contudo, havia os Smurfs negros e os pernilongos, que matavam seu personagem e o transformava em Smurfs negros.
Num descuido meu, no meio da fase, acabei por ser acertada por um pernilongo. Entretanto, para surpresa minha, meu personagem não morreu, nem tive de reiniciar a fase. Meu Smurfs, agora enegrecido, continuou a fase, como um insano, pulando continuadamente e atacou furiosamente a todos. Não tinha controle sobre meu personagem. Malditos jogos comprados com vendedores ambulantes. Sempre lotados de bugs.
Tão logo findei a quarta fase, adentrei no chefe daquela fase. Era uma planta carnívora com três bocas, e cada vez que acertava uma delas, um Smurfs negro aparecia. Ainda estava sem controle do meu personagem. Venci o chefe facilmente e, em seu lugar, normalmente aparece uma chave, para soltar um companheiro Smurfs preso por Gargamel, o vilão do jogo. Entretanto, para minha surpresa, o Smurfs preto não pegou a chave e soltou o personagem preso; pegou o objeto e quebrou-o, em seguida, cortou a corda que deixava pendendo a grade com o Smurfs preso, deixando a mesma ir ao chão. Com a queda, a grade partiu, deixando, no local, o Smurfs preso todo ensanguentado. Em seguida, o Smurfs preto partiu do local.
Fiquei estupefata diante o que vi. Pensei em desligar ali mesmo aquele jogo, contudo, apareceu para mim o password. Anotei-o rapidamente e, em seguida, desliguei o vídeo-game, e corri para meu quarto. Estou sozinha em casa, e o medo percorre minhas veias. Diário, o que foi aquilo? Estou assustada.

15 de dezembro de 2011,
Querido diário,
Já se faz bastante tempo que não jogo The Smurfs. Depois do que aconteceu... contudo, creio ser apenas um bug criado por um hacker sem noção, talvez para pregar peças nas pessoas.
Como machuquei minha mão direita ontem, ao invés de narrar para ti de forma escrita, narrarei usando o meu velho gravador. Finalmente achei uma utilidade para ele...

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Foram as últimas palavras escritas no diário de Maria. Passaram as investigações para o áudio encontrado no gravador.

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Querido diário,
Liguei o jogo novamente, e usei o password. Apareci na fase do lago, a quinta fase. Não estava enegrecido, então logo pensei que o fato da quarta fase fora apenas um bug. Comecei a jogar a fase calmamente. Passei rapidamente, como sempre acontecia. Contudo, aquela fase era diferente das demais: tão logo terminava a fase do lago, adentrava no Haunted Lake. Era, sem sombra de dúvida, uma das fases mais difíceis de passar e que mais causava medo nos jogadores, principalmente porque estes normalmente são crianças.
Joguei-o normalmente, contudo, de imediato tomei um susto. Um raio logo à minha frente, como acontece normalmente na fase, entretanto, seu som foi não o costumeiro, mas sim o de um relâmpago de verdade caindo. O trovão fora ensurdecedor, e fez-me saltar do chão, onde eu me encontrava sentada.
Continuei a caminhar pela fase. Havia um rosto no fundo que lançava pequenas faíscas para o chão. Quando isso acontece, o mesmo fez um estranho barulho. E ele fez, contudo, foi mais assustador que de costume. E não foi só esse fato que fora bizarro: normalmente o rosto lançava apenas duas a três faíscas no chão simultaneamente; daquela vez ela lançou uma nuvem, cobrindo o ar da tela inteira. Não tinha para onde fugir. Acabei recebendo o golpe, que também me assustou. Apareceu uma ferida no lugar onde o Smurf recebeu o golpe, e começou a verter sangue. O mesmo começou a chorar, por causa da dor.
Apertei para o meu personagem prosseguir na fase, contudo, o mesmo não me obedecia. Ficou ali, parado, chorando de dor. Felizmente, antes do rosto lançar mais daquelas pequenas faíscas, retomei o controle do personagem e parti imediatamente do local.
Continuei minha caminhada tenebrosa do local, assustando-me com os contínuos raios que caíam e cumprindo as obrigações necessárias para dali partir.
Entretanto, tudo mudou quando apareceu o primeiro fantasma da fase. Normalmente, são personagens deformados, com gráficos rústicos, primitivos, entretanto, aquele era perfeito, parecia retirado de um filme de terror ou algo parecido. Era extremamente real e se encontrava no chão. Ao ficar frente a frente ao personagem, eis que surge a seguinte fala, dita pelo fantasma:

- O sonho tem que acabar!

Estava traduzido, o que demonstrou que o jogo hackeado fora feito no Brasil.
Junto da fala do fantasma, começou a tocar a marcha fúnebre. Aquilo começou a amedrontar-me. Tentei desligar o aparelho, mas não logrei êxito. Apertei novamente o botão para desligar o vídeo-game, mas novamente não logrei êxito. Fiquei com medo. Continuei a fitar a tela da TV, a fim de entender o que estava acontecendo. Tentei acalmar meu âmago. ‘Era apenas uma parte hackeada, para dar medo’, repetia incomensuravelmente para mim mesma.

- O sonho tem que acabar, pequeno Smurfs! – repetiu o fantasma
- Por quê? – perguntou o Smurfs
- Você é o último Smurfs sobrevivente...

O Smurfs virou o corpo para trás. Naquele instante, percebeu todos os demais Smurfs da vila caminhando vagarosamente em sua direção, arrastando os próprios corpos como fardo, e mergulhados em sangue próprio.
O Smurfs principal fugiu do local, sendo perseguido pelos seus companheiros. Estava achando grotesca a cena, até que o foco do vídeo passou novamente para o fantasma. Este se encontrava frontalmente à tela principal; seus olhos, sua fisionomia, tão reais, amedrontavam-me. Contudo, o que amedrontou-me mais foi sua fala:

- O sonho tem que acabar, Maria!

Naquele instante, sobressaltei. Meu coração foi a mil no interior de meu peito, ofeguei-me, comecei a tremer e a suar frio. Como o jogo poderia saber meu nome?
No mesmo instante, larguei o manete no chão e afastei-me da TV.
Em seguida, junto do fantasma, no centro da tela, apareceram os demais Smurfs, os que estavam zumbificados. Em seguida, a cena foi trocada por uma espécie de ritual. Havia uma cruz no centro, mergulhada em um intenso fogo. Crucificada, estava alguém, morto, mergulhado no próprio sangue. Sobressaltei-me quando focalizaram o rosto da pessoa crucificada: era eu!
Gritei, tamanho o susto. Em seguida, voltou à cena anterior. Meu coração estava aperto e afoito no meu peito. O fantasma virou, apontou sua mão até mim e disse:

- Venha, Maria. Este mundo não mais lhe pertence!

Assustei-me, mas nem tive tempo de reagir. Tão logo proferiu sua frase, o fantasma, junto dos Smurfs zumbis, simplesmente saiu da tela da TV e começou a caminhar vagarosamente em minha direção.
Afastei-me rapidamente da tela da TV. Em seguida, levantei-me e corri, para o mais longe que podia. Tentei sair de casa, contudo, minha mãe trancou-me em casa... esqueceu-se novamente que eu me encontrava em casa... Merda!
Corri para o primeiro cômodo com porta que achei: o banheiro.
E cá estou eu, diário... sentada em uma privada, trancada no banheiro de casa, enquanto um fantasma e uma porção de zumbis tomam conta da minha casa...
E agora, o que eu faço? Estou desesperada... (ouve-se o barulho de pingo caindo no chão). Deus, Deus, ajude-me, ajude-me, por favor, Deus, ajuda-me... Permita-me sair dessa.
(Ouve-se o barulho de uma porta sendo forçada). Creio em Deus, (o barulho repete-se), Todo-Poderoso (novamente o barulho), criador do céu e da terra (um barulho homérico de porta sendo não forçada, mas arrombada. Ouve-se, em seguida, um grito, de uma garota desesperada. Em seguida, o lugar fica mudo).”

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Na investigação que ocorreu em seguida à escuta do gravador, os policiais averiguaram o vídeo-game e constataram de que o mesmo não recebera nenhuma fita havia, no mínimo, oito anos...




Fonte: Escritos Vertiginosos

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