quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O Despertar

Acordei.

É claro aqui. Extremamente claro. Que lugar é esse? Uma prisão? Um hospital? Há quatro paredes sólidas, um colchão duro, e uma pequena fenda. Onde está a porta? Eu não vejo uma porta. Onde Diabos eu estou? Como eu cheguei aqui?

Pense... o que aconteceu? Lembre do que aconteceu... Onde eu estava na noite passada? Onde eu adormeci? Merda... Não consigo pensar. Não consigo pensar em nada. Isso aqui é algum tipo de experimento? Não consigo pensar. Eu não consigo pensar nem na merda do meu nome! Quem sou eu?

ESPERE! Olhe a sua volta, idiota. Paredes sólidas. Quarto trancado. Eu estou em um hospício. É isso. Eu estou louco! Eu estava louco, pelo menos. Aparentemente estou bem agora. Estou curado? Posso sair daqui?

Me levanto. Dou uma olhada em mim. Estou nu. Estou bem limpo, pelo menos, assim como o resto do quarto. Tudo em minha volta é branco e imaculado. É tão claro aqui.

"Olá? Tem alguém aí? Preciso de ajuda!" Grito. Não há nenhuma resposta.

"Alguém! Por favor!"

Começo a andar em volta sentindo as paredes. Onde está a porta? Tem que haver uma porta aqui. Mas que porra é essa? TEM que ter uma porta!

Não há nada. Paredes lisas sem remendas ou rachaduras. Eu olho embaixo do colchão para ver se há algo a mais no quarto. Não fico surpreso em ver que não há nada em baixo dele.

Estou em um hospício? Isso parece tão irreal. Onde diabos estou? Por que eu não consigo lembrar nem a porra do meu nome???

"Eí, você finalmente acordou, não é?" Eu ouço a voz de um homem velho vindo da fenda. Eu corro até ela, extremamente animado.

"SIM! O que está acontecendo? Quem é você? O que é isso tudo!?" Eu grito entusiasmado. Eu olho pela fenda para ver nada além de escuridão.

"Você não lembra nada disso, lembra?" Ele me pergunta.

"Não. Eu não lembro de nada de antes de acordar agora a pouco."

"Tudo bem." Ele diz, em um to risonho em sua voz. "Eu acho que você vai ser ótimo."

O que? Eu estou tão cansado desse sentimento de estar totalmente perdido. Eu quero entender.

"Por favor," eu imploro. "O que está acontecendo? Quem é você? Quem sou eu?"

Eu ouço apenas silêncio.

"ME FALA!" Grito. Meu berro ecoa pela fenda, e nada me é respondido.

Horas passam.

Eu sou deixado sozinho com meus pensamentos. É tão difícil de vasculhar os corredores da minha mente, e descobrir que diabos eu sou. Isso é tão fora do normal... Eu não sei o porque, pois eu não tenho nenhuma memória da minha vida para comparar com isso, mas eu sei que quero sair daqui. Eu preciso sair daqui.

Eu caminho perto das paredes, sentido cada centímetro delas tentando achar qualquer sinal de uma saída. Não é possível que esse lugar tenha sido construído em minha volta. Como eu não consigo achar nada? Horas e horas passam, sem nada. Eu grito por ajuda até minha garganta doer, mas não adianta de nada. Se existe alguém lá fora, se o homem ainda estiver lá, ele não vai responder. Finalmente, exausto, eu me deito.

Quando eu acordo há comida para mim. Uma bandeja com pão, arroz, e um pedaço de carne no canto. Há um copo com água também. Estou extremamente faminto, então não tenho nenhuma hesitação enquanto ando até minha comida e a como. É delicioso. Estou tão feliz. Depois que termino tudo, eu finalmente volto ao meu senso e começo novamente a me perguntar quem sou eu.

Eu vou até a fenda e grito, "Olá?"

"Olá!" Eu ouço a voz em um tom alegre.

"Quem é você?" Eu pergunto.

"Você gostou da comida?" É a resposta que eu recebo.

Não estou no momento para merdinhas de jogos. Eu quero respostas.

"ONDE EU ESTOU? ME DEIXEM SAIR DAQUI!"

"Você sairá em breve. Nós temos que ter certeza que você está saudável!"

Mas que merda...? Eu sou apenas um experimento? Eu estou saudável o suficiente. Eu quero respostas, porra, quero saber quem eu sou. E mais importante, quero ser livre.

"ME DEIXE SAIR SEU BASTARDO DE MERDA! EU QUERO SAIR DAQUI!"

A voz tinha ido novamente. Eu grito mais, mas é sem sentido fazer isso. Estou sozinho.

Assim que as horas passam eu passo pela minha rotina de checar as paredes e achar um jeito de sair dali. Eu, obviamente, não acho nada. Eventualmente sinto vontade de usar o banheiro, mas não há lugar algum onde eu possa ir. Eu grito isso alto, mas ninguém me responde. Eu sou muito orgulhoso para fazer minhas necessidades em um canto. Isso é humilhação. Eu não deixarei eles me verem dessa forma. Se é que eles podem me ver. Algo me diz que eles podem. Eu sinto como se eles tivessem sempre me olhando.

As vezes eu deito e choro. Eu berro e grito e choro até que me sinta completamente exausto e durma.

Algo estranho então acontece. Eu sonho.

Na minha mente, estou voando. Há árvores e rios e a luz do sol e tudo é muito estranho. Eu consigo sentir uma sensação estranha no meu estomago e boca. Dói um pouco.

Acordo novamente em minha prisão. Ainda sinto um pouco de dor em meu estomago. Eu esfrego com minha mão e sinto algo estranho. Quando olho pra baixo há uma cicatriz saliente lá. Mas que merda é essa? Sinto a mesma coisa na minha bochecha. Estou chocado, mas no mais com muita raiva. Eles estão jogando comigo. Eles esperam até que eu durma e começando seus malditos jogos. Eu olho para as paredes e grito. Eu quero sair daqui.

"Você está bem?" Eu ouço a voz familiar.

"VOCÊ ME MACHUCOU SEU FILHO DA PUTA! VOCÊ ME CORTOU E ME ABRIU! O QUE VOCÊ FEZ COMIGO?!" Eu bato na fenda o mais forte que consigo. Eu vou quebrar essa porra. Eu quebrarei até aonde o homem está e vou FAZER ele me dar respostas. Eu bato e bato varias vezes. Minha mão dói muito. Acho que a quebrei. Eu não ligo. Eu apenas continuo batendo e gritando.

"Por favor, se acalme. Desculpe se eu te machuquei. Eu farei com que cure logo. Você está sozinho?"

Eu me nego a responder. Eu vou ignorá-lo, assim como ele me ignora. FODA-SE ele. Ele não parece ligar se eu respondo ou não. Ele não liga pra mim. Ninguém liga. Eu sou um animal. Eu sou um experimento. Eu sou uma porra de um brinquedo.

"Por favor, não se preocupe. As coisas estão para ficar muito melhores. Eu prometo." Com isso, ele some.

Eu sento no meu pequeno colchão duro, olhando minhas mãos. Dói tanto que eu não consigo mexer um dedo sem sentir uma forte dor em todo meu braço. Os ossos todos estão indo em diferentes direções, mal conseguindo se diferenciar uma mão humana. Só agora eu realizei o que tudo isso é. O que eu fiz comigo mesmo? Aquela fenda não ia se mexer ou quebrar, não importa o que eu fizesse. Nada vai quebrar ou mover. Estou preso. Isso é tudo que existe. Eu estou preso e não vou a lugar algum. Enquanto minha mente começa a divagar, finalmente um estranho pensamento vem a mim. Eu não tenho lugar nenhum para ir...

Quando eu fui dormir, eu precisava URGENTEMENTE o banheiro. Mas agora a necessidade tinha sumido. Eles tinham me aberto e tiraram meus excrementos?! Porque diabos eles fazem isso? O que está acontecendo aqui? Eu tento entender o que esta acontecendo por horas, pensar em algum cenário possível que isso tudo faria sentido. Eu penso em todos os tipos de coisa, mas nada faz com que "isso" faça sentido para mim. Isso é apenas uma loucura aleatória, e não há maneira alguma de eu entender. Então eu apenas desisto. Apenas aceito. É tudo que eu posso fazer.

E o tempo passa.

Eu não sei o quanto. Eu acordo. Eu berro, grito, choro. Há comida para mim, e eu como. A voz fala quase sempre agora e, dizendo coisas idiotas entre linhas que eu nem me importo em tentar entender. Daí eu durmo. Eu sonho as vezes, mas não sempre. As vezes são sonhos ruins. As vezes eu sonho que as paredes vão se fechando em mim, cada vez com menos espaço até que eu seja esmagado. Meus ossos se quebram, e meus pulmões estouram em colapso e sinto isso tudo, devagar. Estou aterrorizado. Estou louco. Quero sair. Eu VOU sair.

Eu acordo mais uma vez, e meu corpo dói. Há uma nova cicatriz no meu peito ao longo das minhas costelas, e outra em minha cabeça. As cicatrizes fazem parte do meu dia-a-dia agora. Nada novo a respeito disso. Apesar que essas pareciam um pouco maior do no usual, e doíam bem mais. Mas essa não era, de longe, a coisa mais incomum desse dia.

Eu olho pelo quarto, e não consigo acreditar no que estou vendo. Há uma garota aqui. Uma garota e ela parece ter por volta dos 17. Está deitada no chão, dormindo do outro lado do quarto, e assim como eu, completamente nua. Ela é linda. Estou cheio de alegria. Eu não sei o que eles tem em mente, mas eu não ligo. Há outra pessoa aqui! Alguém pra tocar, olhar! Alguém sabe que eu sou real! Alguém que talvez me ajude a sair daqui. Eu... Eu estou animado demais. Minha mente está correndo. Da onde ela veio? O que devo fazer?

Eu me levanto num pulo e ando até ela. Eu toco no seu ombro e começo a falar.

"Eí. Olá? Acorde." Os olhos dela piscam e se abrem enquanto ela se foca em mim. Ela está apavorada. Eu não sei pelo o que ela tem passado, mas ela não parece muito entusiasmada por estar com outro ser humano. Ela grita e se encolhe em um canto do quarto. Eu tento acalma-la, mas ela continua do mesmo jeito.

"Por favor, não! Eu não vou te machucar!" Eu digo o mais calmo que consigo. "Eu estou do teu lado. Estou com você! Por favor, se acalme. Confie em mim. Você está bem? Você sabe onde está?" Ela apenas continua encolhida no canto.

"Ouça, Eu estou aqui por tempo demais. Eu não sei que lugar é esse. Você sabe alguma coisa sobre isso tudo? Você sabe quem está nos mantendo aqui? Há outros da onde você veio? Você sabe seu nome?" Ela me responde apenas com um soluço em pânico. "Nós estamos juntos nessa. Estamos juntos aqui. Você não precisa se preocupar. Nós vamos ficar bem. Nós vamos dar um jeito nisso. Vamos sair daqui. Tá bom? Nós vamos sair daqui." Minhas palavras não significaram nada. Percebi que ela precisava de um tempo pra obter noção da realidade, então foi até a fenda e dei tempo para ela se acalmar.

"Ela vai ficar bem." Eu ouço uma voz baixa vindo da fenda. "Ela apenas precisa de tempo pra se acostumar com isso."

Tenho de admitir. Seja lá quem for essa pessoa, ele sabe o que está fazendo. Eu descobri a um tempo que não tem como usar argumentos para persuadi-lo. Eu apenas olhei pela fenda negra, e não disse nada.

Eventualmente, depois de horas chorando, ela se acalmou. Eu sentei com ela e tentei fazer algumas perguntas. Ela nunca responde e de fato parece não compreender o que estou dizendo. Eu sinto que o sinto da minha voz acalma-a um pouco, então continuo falando. Eu falo pra ela sobre minha experiência aqui começando desde o primeiro dia que acordei. Eu tento relatar cada detalhe que eu consigo lembrar sobre meu tempo na prisão. Logo ela se abraça em mim, e me sinto incrível. O calor, a pele macia do corpo nu dela abraçado contra o meu é diferente de qualquer coisa que eu tenha experimentado nesse quarto frio. Eu passo meus dedos entre seus cabelos e ela geme baixinho. Ficamos sentados lá, no chão, por horas. Eu sei que agora ela entende. Somos eu e ela contra seja lá o que for isso. Independente do que aconteça, nós estamos juntos nessa. Apesar dessa situação de merda toda, me sinto muito melhor agora.

Os dias continuam passando. As cicatrizes começam a desaparecer, e nenhuma nova mais aparece. A comida vem, e agora foi nos dado o "luxo" de ter um lugar para usar o banheiro. Eu e a garota estamos mais próximos. Nós, na verdade, fizemos amor algumas vezes. Ela é meu tudo agora. Eu juro que se tirarem ela de mim, eu não sei o que eu vou fazer.

Nós nos deitamos no chão se beijando agora. Acabamos de fazer amor de novo e foi lindo. Ela confia em mim, e eu nela. Eu nunca a machucaria, e nunca deixaria ninguém tocar nela. "Eu te amo" Eu digo a ela e beijo seu cabelo. Ela sorri e repete de volta para mim. Eu sei que ela entende o significado disso; consigo ouvir no tom de sua voz. Assim que ela cai no sono, eu prometo a mim mesmo que vou sair desse lugar e leva-la comigo.

Então acontece. Eu acordo e ela sumiu. Eu sabia que era apenas uma questão de tempo, eu fiz apenas que eu acreditasse que não ia acontecer. Eu choro. Grito. Eu vou até a fenda. "O QUE VOCÊ FEZ COM ELA!? ME DÊ ELA DE VOLTA!" Eu bato na fenda e grito.

"Não se preocupe!" A voz que eu estou acostumado diz. "Ela está bem. Ela está apenas em um novo local! É algo que estivemos trabalhando por um tempo. Gostaria de ver?"

Estou confuso. Estou triste. Com medo. Não há motivos para lutar. Ele é meu mestre. Ele tem o poder. Ele tem minha vontade. Eu limpo minhas lágrimas e digo que sim à ele. Eu imploro, na verdade. Eu falo que serei bom, que farei qualquer coisa que ele queira. Eu falo para ele que não vou mais tentar sair ou bater nas paredes e ser mau novamente. "Por favor, apenas deixe eu ficar com ela. Por favor."

"Em breve." Ele diz de volta, quase cantarolando as palavras.

"POR FAVOR!" Eu grito, choro, imploro. Eu não consigo ficar aqui sem ela, eu sabia. Eu faria qualquer coisa para estar com ela. A voz me deixa sozinho de novo e eu quero morrer. Eu faria qualquer coisa para me matar e acabar com isso tudo logo. Mas eu não posso deixa-la. Ela precisa de mim, e eu prometi a ela que nunca a deixaria. Eu choro e grito pelos cantos até tossir sangue. Finalmente eu vomito e desmaio de exaustão.

Eu acordo em um lugar estranho. Estou sonhando? Só pode ser. Há árvores. Há grama. Um lindo céu sobre minha cabeça. Eu não estou mais na prisão! Não pode ser real! Mas é. Realmente é. Espere.... Isso significa que...?

Corro. Eu corro por todo o lugar procurando por ela. Ele tinha me prometido. Ela tem de estar aqui. Eu estava realmente na minha casa nova. Olho em volta para perceber que estou ainda trancado, mas é muito maior agora. Vejo paredes brancas cercando o local vão até uma altura de 7 metros. Vou me preocupar com isso quando eu estiver com ela de novo. Agora só preciso encontrá-la. As árvores são realmente lindas. Tudo é lindo. Só preciso dela.

Finalmente a ouço. Ela da guinchos de felicidade e corre até mim. Nós nos abraçamos e choramos e nos beijamos apaixonadamente. Estou feliz. Estou tão feliz que me deixaram estar com ela de novo. Estou inteiro de novo e posso finalmente relaxar. Depois de nós dois nos acalmar, decidimos dar uma volta pelo novo local.

Por horas vagamos pelo recinto de parede a parede. Seja lá quem fossem nossos captores, tinhas feito um ótimo trabalho neste lugar. Há um rio que flui inteiramente pelo local todo. Existe uma máquina gigante que sobe para o céu e sobre a parte superior da cerca. Quando nos aproximamos ela nos é oferecida comida. Todo o alimento que poderia querer. E é tudo delicioso. Isso é incrível. Nós provamos tudo, o quanto podemos até ficarmos cheios. Nós estamos tão feliz juntos. Mas ainda... há algo que impeça o novo local de ter total liberdade. Essas malditas paredes. Se nós vamos nos libertar pra descobrirmos quem nós somos, onde estamos, teremos que passar essas paredes.Então agora só precisávamos de um plano.

Os dias passam. Nós aproveitamos um ao outro no nosso paraíso privado, secretamente tentando achar um jeito de escapar dali. O homem da fenda nunca fala com a gente aqui. Mas ainda assim, sei que está nos vigiando. Todos eles estão nos vendo. Eu consigo sentir isso tudo o tempo durante o dia.

Um dia algo aconteceu. Ela viu algo e falou animada para mim "Olha! Olha!", sussurrou. Estou muito orgulhoso com o desempenho do aprendizado da língua com ela. Recentemente ela tem aprendido bastante comigo. O que eu vi foi uma árvore, assim como todas as outras. Mas essa estava perigosamente perto da parede e era alta suficiente pata que pudéssemos escala-la e pular fora daqui. Seria uma queda e tanto, mas provavelmente valeria a pena para ver além dos muros pelo menos. Falo para ela que devemos esperar. Se fizermos algo precipitado sem pensar, poderíamos foder todo o plano. Ela entende, eu sei, mas não gosta. Eu digo para ela se acalmar por um dia ou dois até descobrirmos o melhor jeito de fazer isso. Eu sei que eles estão de olho na gente. Eles só estão esperando que pisemos em falso para que possam nos punir. Eles vão nos separar ou nos colocar no quartinho de volta. Ou pior, os dois. Não POSSO deixar isso acontecer. Não tem jeito.

Tenho quase certeza que finalmente ouvi meu velho amigo novamente. Eu acordo por conta de sua voz sussurrando para mim. Eu olhei em volta, não vi nada. A voz está em todos os lugares e em nenhum lugar. Está dentro da minha cabeça? Estou imaginando isso? Eu não sei mais. Eu não estou disposto a arriscar o jogo se é apenas minha imaginação, por isso eu falo de volta. "O que você quer? O que você fez com a gente? Onde estamos?" Ele ignora todas as minhas perguntas. Eu não estou surpreso por isso. Ele fala comigo, me avisa. Ele sabe do nosso plano. Eu SABIA que eles sabiam. Não temos segredos perante nossos captores. Eles estão em todos os lugares, nos vendo.

"Esqueça isso." Ele fala. "Apenas aproveite sua nova casa."

"PRISÃO" Eu corrijo-o. "Aqui é uma merda de uma prisão. Tudo que eu quero desde que eu acordei aquele dia é a porra da verdade, e eu nunca tive nada de você. Você é doente. Eu estou aqui, sequestrado, por meses, ANOS, APENAS ME DIGA QUEM EU SOU!" Ah voz já havia sumido.

Eu ando por ali pensando em tudo isso. Hoje é o dia. Nós vamos sair daqui. Não importa o que há depois dos muros, eu sei que tem que ser melhor que aqui. Liberdade além dos muros.

O sol nasce e eu vou até ela. Eu creio que ela devia estar acordando por agora. Quando eu vou para aonde nós costumamos dormir, ela não está lá. Ela nunca foge de mim assim. Onde ela est- Ah, não... Ela já está indo. Será que a voz veio para ela também durante a noite.

Eu corro até a arvore. Eu sei que ela está lá. Eu sei que está. Quando eu finalmente chego lá, ela está na metade da escalada. "ESPERE!" Eu grito. Ela olha para mim e sorri. Ela me motiva para eu subir com ela. Eu ainda estou assustado, mas eu percebo que eu consigo me deixar ser. Eu tenho que ficar forte perante estas pessoas, esses bastardos. Eu vou dar tudo que eu tenho para isso.

Juntos, nós dois juntos vamos subindo rapidamente. Vamos cada vez mais alto, e finalmente, FINALMENTE estamos quase no topo. Ela chega até o topo e se inclina em direção à parede. Eu olho para o seu rosto e vejo um expressão de total deslumbre e êxtase. Ela venceu. Ela sabe disso. Seja lá o que ela vê, ela sabe que é a sua liberdade. Ela sorri para mim e eu vejo a curiosidade infantil em seus olhos. Sem poder mais esperar, ela desce um pouco, me beija, e escala até o muro.

MERDA! Eu ouço sua garra no topo do muro e então o caminho até o outro lado em uma bruta queda. Ela grita assim que eu ouço seu corpo batendo no chão do outro lado. Por favor, deixe-a ficar bem. Não deixe que nada aconteça com ela! Sem pensar, eu faço meu caminho ao topo do muro e pulo.

A queda é dura para mim também. Quando aterrisso sinto dores como eu nunca havia sentido nem pelas cicatrizes. Mas acho que nada está quebrado, pelo menos. Se está, estou muito preocupado com ela, primeiro. Ela está chorando e segurando a própria perna. Eu dou uma olhada, mas ela parece estar bem. Mas algo está diferente nela. Talvez seja o jeito que a luz está iluminando a sujeira, mas a pele dela parece mais áspera. Ela está suja. Eu também. Finalmente levanto para ver onde estamos.

Nós caímos na lama. Lama muito suja. Estamos roxos, doloridos e assustados. Mas pelo menos estamos livres. Pelo menos temos uma chance. Eu olho para o muro que acabamos de escalar, orgulhoso de nossa realização. Então ouço algo. Um pouco a frente de nós há outra construção. Um prédio enorme em formato de pires com uma porta mecânica que acabara de abrir.

Vamos andando até lá devagar, tomando cuidado para não nos machucar mais. Minhas pernas ainda estão me matando, mas tenho que saber o que tem lá. Assim que nos aproximamos, o prédio faz um barulho incrível que nos faz parar em nossos lugares. Pela porta andam...outros. As únicas outras pessoas que eu já tinha visto.

Deviam haver duas dúzias deles pelo menos. Mas eles não eram que nem a gente. Eles eram mais altos. Mais magros. Usavam roupas. O tom da pele deles eram muito mais clara que as nossas e a ponta de seus dedos eram muito mais longas. Eles eram que nem nós, não á dúvida, mas havia algo muito diferente. Um deles se aproximou de nós.

Ele anda até uns 5 ou seis metros da gente e parou. Ele olhou intensamente para nós.Tudo que pudemos fazer é olhar de volta. Quando ele finalmente fala, fico em choque. Esse homem, o homem que eu estou olhando cara à cara, é o homem da fenda. Ele é a voz que me manteve preso e me atormentando por tanto tempo. Ele é meu único amigo e inimigo.

"O que vocês fizeram?" Ele diz para nós dois. Eu não consigo dizer pelos seus grandes olhos pretos se ele está chateado ou triste. "Vocês arruinaram tudo que fizemos por vocês."

"VAI SE FODER!" Eu grito. "Não vamos mais ser seus escravos!"

Ele nos fita em silêncio pelo o que parece ser minutos. Ele olha para os outros que ainda estão entro da construção. Ele deixa escapar um grande suspiro, e olha de volta para nós.

"Nós sabíamos que era apenas uma questão de tempo. Vocês terão que fazer as coisas por vocês mesmos agora. Esse é, eu temo, o único jeito de vocês aprenderem."

Eu não sei o que dizer. Eu não tenho certeza o que ele quer dizem com isso. Eu não tenho certeza se eu realmente me importo. Eu apenas o olho, esperando ao lado do meu amor. Não importa o que, eu sei que não precisarei voltar como as coisas eram antes. Isso é tudo que importa.

Ele anda de volta para a construção e a porta se fecha. Então do nada, maravilhosamente, a construção sobe no ar. Com um flash absurdo os muros e tudo que havia antes sobre nossa prisão havia desaparecido, sem nenhum vestígio que havia um dia existido. A construção flutua mais alto e mais alto até que sumir de nossas visões. Então, finalmente, estamos sozinhos.

Juntos nós vasculhamos a área, procurando por respostas. Eu estava começando a me sentir um tanto ansioso. Estou com fome, e pela primeira vez que eu consigo me lembrar, eu não tenho comida. Não há dispensa, não há maquinas, não há truque de mágica para mim. É apenas eu, ela e o mundo.

Tem sido muito diferente nestes últimos dois anos. Nós estávamos tão perdidos quando eles partiram. Eu me odeio por dizer isso, mas eu gostaria de estar de volta com eles. Eu quero ouvir sua voz novamente e quero minha comida e ficar limpo e que tomem conta de mim. A comida que comemos agora é terrível. O modo como vivemos é terrível. Nós ficamos sujos o tempo todo. Nós nos machucamos. Sempre que vamos dormir estamos sujos, e pela manhã quando acordamos estamos do mesmo jeito quando fomos dormir. Temos que nos limpar e cuidar de nós mesmos. Só depois que nos deixaram foi que percebemos o quanto éramos dependentes deles.

Está frio aqui fora. Temos que matar os animais que vagam aqui e vestir suas peles apenas para nos mantermos aquecidos. Sentimo-nos estúpidos, sujos, impotentes. Nós odiamos o que nos tornamos. Às vezes eu fico acordado à noite e tento recuperar a voz na minha cabeça. Eu tento falar com ele e eu continuo esperando e esperando que ele venha me responder. Mas ele não faz. Seja lá quem eles eram, agora se foram. Só restou eu e Eva. Assim como quando nos conhecemos, eu sei que não importa o que aconteça, nós temos um ao outro. Isso me ajuda a passar por tudo isso através dos dias.

Nós crescemos bastante nesse período. Ela está grávida agora, então estamos trabalhando duro para tentar construir um bom abrigo para nossa família. É difícil, mas eu sei que nós podemos fazê-lo. Algumas noites ela desmorona e eu seguro a cabeça e acaricio seus enquanto ela chora. "Onde você acha que eles foram, Adão? Você acha que eles vão algum dia voltar e nos ajudar?" Eu sei que eles não vão.

Eu tento ser forte por ela. "Eu não sei. Talvez venham. Eles nos amaram. Eu sei que eles ainda amam."

Eu beijo seu cabelo como eu fiz tantas vezes antes. Espero, mais do que tudo, que o que eu lhe disse seja.



Fonte: Creepypasta Brasil

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Após ler essa fantástica creepy, vamos tirar algumas conclusões e fazer algumas análises. Como é revelado no final, os tais humanos são, nada menos nada mais, que Adão e Eva, no entanto, a história é um pouco diferente da que é descrita na bíblia. Um dos fatos que já dá um indício de que a o texto esta relacionado à Adão e Eva é a parte em que ele fala das cicatrizes, lembrando que na bíblia é citado que Eva foi criada a partir das costelas de Adão. Algo que mais tarde reforça esse pensamento são as descrições finais.
Na parte em que Adão fala sobre o tal lugar rodeado por árvores já temos em mente que isto é uma referência ao Jardim do Éden e após um tempo ele fala sobre uma imensa árvore no qual subiriam para escapar, esta é uma referência a Árvore Do Conhecimento do Bem e do Mal. A tal voz do aparente homem velho, ou seja, Deus, avisa-lhe para esquecer a ideia de fugir e desfrutar de sua casa. No dia seguinte, Adão nota que Eva não está onde deveria e vai até a árvore para encontrá-la, sendo que esta é uma referência ao erro de Eva, que na história original foi a primeira a cometer o erro de comer o fruto proibido, sendo assim, ela foi a primeira a subir na árvore e logo em seguida Adão. Ao final eles conseguem sua "liberdade", porém não foram expulsos, saíram por vontade própria. Eles então encontram uma construção de onde saem Deus e possíveis anjos, mais é notável - segundo a descrição de Adão - que eles tem características de alienígenas: dedos longos e grandes olhos negros. Assim como na história original, Adão e Eva tem que aprender a agir por si mesmos e arrependem-se de seu erro.

Avaliação final: de 0 a 10, o texto ganha um 10,0.

4 comentários:

  1. Mto boa mesmo essa creepypasta, ela narrou a história sob a perspectiva da teoria da origem extraterrestre, ficou fd!

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  2. A história foi bem construída em sua narrativa, apesar de previsível... Ela porém carrega os mesmos erros conceituais que o cristianismo carrega... A noção de que o homem é fraco, dependente, e expõem a raiz do problema, a síndrome de Estocolmo.. a quebra da autossuficiência que leva a pessoa a amar seus dominadores... O homem de valor NUNCA será aquele que almeja retornar para o cativeiro, mesmo que esse cativeiro seja cercado de delicias... Por outro lado os seres / alienígenas / deuses que criaram ou capturaram, não importa, os homens, se mostram sim indignos e cruéis, não importa que estivessem "cuidando" dos dois.. Poios o faziam como seres inferiores e não como iguais... e ao se recusarem a repartir com eles suas intenções, suas vontades e o conhecimento sobre o que pretendiam, mostraram-se como seres desprovidos de sabedoria, mesmo possuindo conhecimento e tecnologia aprimorada...Antes os "criadores" se mostraram indignos de suas "criaturas", do que o contrário.. E reforçam e confirmam isso, além de sua crueldade, ao sairem sem olhar para trás, apenas por suas "criações" terem escolhido e se mostrado maiores do que eles haviam esperado... A busca pela autonomia, pela liberdade e por ser autor de seu próprio caminho NUNCA deveriam ser tidos como algo menor, mas sempre como expressão da grandeza de qualquer ser... A história é literariamente bem construída, mas a lição que ela tenta ensinar deveria ser revista e re-interpretada...

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