segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Venda_Sua_Alma.com

Sérgio lia um conto de terror de um site muito popular na internet, mas desistiu quando na metade do conto, frases em uma língua que ele não reconhecia começaram a aparecer, ele começou a não entender nada e desistiu da leitura, eis a última frase que lera:

Gratulatione lector. Vendidistis anima tua. Habent a nice vitae.

Quando pronunciou aquela frase, tremeu. Um frio subiu-lhe a espinha e fechou imediatamente a tela do navegador de internet. Por um momento se perguntou porque fizera aquilo, desde sempre lia contos de terror e nunca sequer sentia um pequeno medo. Além do mais, não entendia nada do que lia, porque reagira daquela forma? No canto da tela surgiu uma notificação anunciando que havia recebido um novo e-mail. O assunto do e-mail era “anima” e só tinha um link. Quando clicou, uma tela escura abriu e surgiram na tela as seguintes frases em letras brancas na tela escura:

“TENHA O DESTINO EM SUAS MÃOS. MUDE DE VIDA.”

Ao clicar na tela, surgiu um texto enorme, Sérgio leu apenas o título “TERMOS DE SERVIÇO E CONDIÇÕES”, acostumado com aquilo, não leu mais nenhuma palavra e foi clicando em “aceitar” quantas vezes foram necessárias. Seis no total. No final ainda surgiu: Tem certeza? E ele clicou em SIM. Novamente a frase “Gratulatione lector. Vendidistis anima tua. Habent a nice vitae” surgiu. Ele a reconheceu e após alguns segundos de espanto, admirando o texto na tela do computador. Ele se desligou.

Sérgio foi deitar-se. Mas aquela frase não deixava sua mente. Fechava os olhos e a relembrava, como se fosse algo costumeiro do seu dia-a-dia, lembrava claramente de cada palavra e se o pedissem para reescrevê-la, o saberia com precisão. Depois de muito oscilar entre estar dormindo e acordado, adormeceu profundamente.

O alarme tocava às 6:00. Mas que droga! Era um sábado de manhã, porque diabos teria de ir trabalhar? Sentia muita falta da recente adolescência deixada para trás. O que mais lhe estressava era seu chefe. Além de ser um velho grosseiro mal-educado, pegava no seu pé feito o diabo. Sérgio perdera as contas de quantas vezes havia desejado a morte para aquele velho rabugento. Após sair de casa, pegou o ônibus e seguiu para o trabalho. Que surpresa ao chegar lá. Muitas pessoas, a maioria colegas de trabalho, observavam o velho prédio EM CINZAS. Havia incendiado naquela madrugada. Pasmou ao descobrir que estranhamente seu chefe ainda se encontrava lá dentro no acontecido e havia sido a única vítima daquele horrível acidente. Alguns choravam, além de lamentarem a morte de seu “bondoso” chefe, lamentavam a perda de seus empregos, a partir dali, a velha Gráfica Galvão havia finalmente fechado suas portas da forma mais trágica possível.

Não tinha mais porque ficar ali, lentamente, como para não parecer que pouco importava o que havia acontecido, afastou-se da multidão, entrou em um corredor ao lado do prédio destruído e caminhou lentamente observando os destroços do lugar onde passara os últimos meses de sua vida. Todos estavam distraídos conversando na frente do local. Sérgio olhava com certa tristeza para tudo aquilo, de repente, avistou uma mala no meio dos escombros que fez sua expressão mudar rapidamente. Reconhecia a mala do Senhor Inácio, seu chefe e espantou por no meio das cinzas ela ainda estar intacta. Deu uma olhada ao redor, ao ver que não havia ninguém por perto, pulou a janela destroçada, tomando em seus braços a mala. Certificou-se novamente que ninguém o observava e saiu rapidamente pelo corredor por onde caminhava. Pegou o primeiro ônibus que avistou e fugiu, tendo total consciência do que fazia.

Alguns quilômetros de onde trabalhava, Sérgio encontrou uma praça, a qual achou perfeita para conferir o que tinha na mala. Poderia muito bem fazer isso na tranquilidade de seu quarto, mas precisava também de um lugar calmo para refletir sobre o que havia feito ou faria dali por diante. Não se surpreendeu ao constatar que a mala que carregava estava cheia de dinheiro, notas alta, tinha em suas mãos uma pequena fortuna. Tomaria para si aquele dinheiro? Roubaria seu chefe? Que se dane, pensou. Ele está morto, não precisa mais disso. E afinal de contas, eu mereço por todo esse tempo que aturei esse velho repugnante! Ao dizer isso para si mesmo sentiu-se merecedor daquele dinheiro e passou a considera-lo como uma recompensa.

A partir de então, sua vida mudou completamente. Sérgio investiu aquele dinheiro e fez muito mais dinheiro. Algum tempo depois já estava com a vida ganha. Conseguiu conquistar a mulher de seus sonhos. Conseguiu deixar a casa de sua família e morar numa mansão quase luxuosa com a sua, então, esposa.

Mudanças radicais aconteceram e Sérgio nunca fora tão feliz. Levou essa vida de prosperidade e amor por exatos dez anos, até que ao sofrer uma tentativa de assalto, reagiu e acabou levando um tiro fatal no peito e morreu. O bandido que lhe atirara era filho do seu antigo chefe que ao perder o pai no acidente passou a viver na quase miséria e quando adulto acabou entrando no mundo do crime.

Sérgio teve sua alma levada pelos demônios cupido, incendiário e da falsa prosperidade, tudo por causa de um descuido na internet, porque até os demônios se modernizaram. Cuidado com o que você aceita por aí.




Fonte: Recanto das Letras

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