sábado, 28 de fevereiro de 2015

A Vida na Máquina - Um Texto Sobre A Criação


BOTE SUA PAMPERS E REFLITA...



Sendo um programador, um dos meus sonhos sempre foi criar um jogo original, algo que a industria de games nunca tinha feito.

Depois de ver Spore, fiquei intrigado. Era uma tentativa de fazer as pessoas tomarem conta de um universo. Depois de pesquisar o que faziam os jogos populares, percebi que o aspecto principal era o controle.

No dia-a-dia, as pessoas não tem controle do meio em que estão. São ditas o que fazer, onde ir, como viver. Seus trabalhos consistem em ficar de pé um sentado em algum lugar até as 18h e só assim são permitidos a voltar para casa. Não é um mistério sua infelicidade.

Para muitas pessoas, os jogos são uma fuga para um mundo em que tem o controle, ou vivem uma vida falsa extraordinária cheia de aventuras. O aspecto de controle geralmente é encontrado em jogos de estratégia, ou de aventuras no estilo RPG.

Eu olhava para jogos como The Sims, e notei que o que o fazia tão popular não é só a ilusão de controle, mas o nível de controle. Você tem posse das vidas das pessoas.

Antes do The Sims, existia o SimEarth. Um jogo onde não se controlava pessoas individuais, mas a terra inteira! Por conclusão, decidi que tinha que criar uma jogo similar a

Spore, no qual o jogador sutilmente "guiava" a evolução. O que fazia que Spore fosse um fracasso era a falta de controle real que as pessoas tinham. Dificilmente se assemelhava a evolução de verdade.

Para fazer isso, comecei a criar um sistema de física. Conheço pouco de física, mas decidi estudar e tentar criar uma versão simplificada onde certas partículas consegueriam interagir, de maneiras especificas. Quando se trata disso, física é só contas matemáticas complexas.

Simulei energia, matéria, criei um sistema simples, com um sol que emitia energia, rodeado por um planeta que usufruía  dessa tal energia.

Decidi criar células básicas do zero, que eram "codificadas" para se desenvolver no sistema em que foram designadas. Elas viviam pela energia emitida pelo sol, e tinham um código "genético" que codificava as substancias produzidas pelas células. Acho que você pode chamá-las de minhas eucariontes.

Em alguns minutos meu planeta se enchia dessas células, depois as qual sofriam mutação, e as células mais eficientes em converter a energia do sol em substâncias uteis para se dividir, sobreviveriam. Era meio tedioso, mas acho que funcionava.

Depois decidi expandir o sistema de física, e forçava as células a criar resíduos que eram tóxicos e as matariam. Notei que algumas células responderam a isso criando menos. Outras responderam criando algo para irradiar esse resíduo. Entretanto, outras desenvolveram reações químicas para "limpar" esses resíduos. Entretanto, notei algo fascinante. Rodando o simulador por alguns séculos (alguns minutos na vida real), algumas células faziam quantidades enormes desse resíduo de propósito. Notei que isso fazia com que outras células morressem. Os primeiro predadores surgiram.

Com os primeiros predadores, a diversidade nesse pequeno mundo cresceu rapidamente. A resposta de algumas células foi de fugir quando se encontravam com a toxina. Outros desenvolveram resistência e algumas dessas usavam toxina a utilizavam para crescer mais.

Algo interessante acontecia. As células que fugiam se agrupavam com as que utilizavam as toxinas. Ficavam juntas e ajudavam umas as outras. Eventualmente elas se uniam uma na outra. Formavam estranhas simbioses, onde a célula que geralmente fugia da toxina, agora ia a lugares onde estavam esses resíduos, e então a outra célula consumia a toxina e providenciava energia para a outra.

Sem entrar muito em detalhes, comecei a ficar muito animado e decidi deixar o simulador funcionando durante a manhã (fui dormir as 5 da manhã) e fui para a cama. Quando acordei, lá pelas 11 da manhã, notei que o mundo que tinha criado estava totalmente mudado, quase irreconhecível.

Enormes estruturas tipo planta estavam crescendo nesse planeta, sendo consumida por outro organismo que comia essa planta. Olhando para as informações do sistema, vi que o planeta não tinha mudado muito nas últimas duas horas. O que significava que tinha chegado mais uma vez a uma "fase de estagnação", onde a simplicidade do meu simulador impedia que vidas mais complexas evoluíssem.

Expandi o sistema dividindo a "energia" em diferentes tipos, com diferentes comprimentos de onda no qual eram absorvidas em diferentes níveis por diferentes moléculas. Implantei vibrações no ar, criei um simulador improvisado de peso, e mais umas pequenas alterações.

Isso fazia com que simulador ficasse mais lento, claro, mas valia o sacrifício. Fiquei o dia inteiro observando animadamente o simulador, e jogando com ele, sendo que era totalmente viciante. Organismos complexos desenvolveram-se, o que ajudou. Plantas que dependiam uma da outra, ou predadores horríveis que eram atraídos para comê-las.

Me divertia bastante, e notei que algumas criaturas desenvolveram um "som aviso". Ou seja, quando eles notavam algum predador se aproximando, faziam um som e os outros da espécie fugiam para dentro de buracos que cavavam na terra. Outros desenvolveram um "som de acasalamento".

Comecei a me divertir um pouco mais. Fiz uma ferramenta que me permitia colocar organismos específicos na terra, e colocar meu nome neles. Criei 10 "meteoritos" e os coloquei em um lugar do planeta para fazer ilhas, pois queria ver ser se os animais se desenvolveriam diferentes em lados contrários da ilha. Fiz uma ilha em formato de um smiley com erupções vulcânicas.

Quando eu percebi, os pássaros já estavam cantando lá fora; tinha ficado até as 5 da manhã acordado de novo. Me senti cansado, então dormi até a uma da tarde mais ou menos. Quando olhei o simulador de novo, fiquei um tanto chocado.

Grupos diferentes de uma mesma espécie tinham construído estátuas de pedra. Alguns em forma de um smiley, outros no formato do meu nome. Não sei o porquê de terem feito isso, nem como. O que eu percebi é que eles se atacavam de tempos em tempos.

Não soube o que fazer com aquilo, mas conclui que os organismos devem ter de alguma forma notado de que o smiley e o nome que eu escrevera eram "especiais". As lutas me incomodavam, então decidi criar uma enorme montanha entre os vales para separar os dois grupos.

Nesse ponto, mudanças aconteciam drasticamente, comparando com antes. Enquanto tive que dormir por horas para ver as tribos se desenvolvendo, só do tempo de ir pegar um copo d'água ou ir no banheiro, já notava que as roupas dos tribais e suas moradias haviam mudado.

E também estavam sempre crescendo em número. Depois um tempo, notei que as criaturas começaram a fazer seus próprios símbolos no chão, e não só copiando os meus. A maioria dos símbolos pareciam aleatórios, mas um se sobressaia.

Os organismos haviam criado um símbolo que se assemelhava a eles. Um pequeno círculo com um quadrado logo abaixo. Dentro do quadrado havia um ponto, no centro. O intuito do ponto era simbolizar os órgãos visuais da criatura. Havia um olho na frente e outro atrás. No mesmo quadrado, outros órgãos sensoriais e reprodutivos eram representados.

Perto desse círculo no topo do quadrado, podia ser visto algo que se parecia com um garfo. Dois desses garfos estavam desenhados em direções opostas. E perto desses havia o desenho do smiley.

Então entendi: Eles não estavam tentando se comunicar entre si. Eles estavam tentando se comunicar com algo "por aí". Minha intromissão no mundo deles fez com que, de alguma forma, eles percebessem que algo poderoso estava por trás de tudo, capaz de mudar seu mundo.

Fiquei pensando comigo mesmo se, símbolos como as pirâmides ou o Stonehenge no meu mundo não seriam algo que se assemelhava o que estava acontecendo no jogo. Implorando para que seu criador iniciasse contato com eles. Entretanto, uma coisa era inegável: essas criaturas sabiam que existia algo a mais.

Fiquei filosofando por um longo tempo. Eu tinha a responsabilidade de fazer contato com algo que nem se quer era real? Ou será que essas criaturas eram reais de uma forma diferente? Uma coisa pode ser real só pelo fato de ter um conceito de si mesmo? E se eles fossem reais, significa que ficariam melhor se eu fizesse contato? Eu deveria modificar o simulador para que eles ficassem felizes permanentemente? E isso sequer seria possível de se fazer?

Não queria que minha existência fosse confirmada à eles, mas queria me comunicar. Decidi programar um "profeta". Um organismo que parecesse com eles, mas não pode ser provado por eles que seja diferente. E seria totalmente controlado por mim.

Eu fiz com que ele nascesse em um lar poderoso, como o filho do líder. Decidi liderar por exemplo, e segui ensinando minha língua para aquelas criaturas, para que assim eu pudesse me comunicar com elas. Como um profeta os ensinei que minha língua era o jeito de se comunicar com "O Superior". Não havia jeito deles saberem se isso era verdade ou não.

Ainda não havia decidido se devia me revelar ou não. Mas queria ser capaz de entende-los e saber o que queriam me falar. Talvez isso seria possível dentro de algumas gerações. Logo, todos falavam minha língua.

E rapidamente símbolos formando palavras começaram a aparecem no chão.

"NÔS GUIE" "MOSTRE SUA SUPERIORIDADE" "NÔS AJUDE"

E durante tempos de doença, fome ou miséria geral:

"NÔS DÊ COMIDA" "FAÇA UM MILAGRE" "TERMINE COM NOSSO SOFRIMENTO"

Decidi que não podia mais manter o mundo com tanto sofrimento deixando que o simulador agisse sem intervenções. Não era aceitável deixar um mundo com mortes, estupros e assassinatos se eu podia mudar isso.

Implantei correções graduais, para que não pudessem ser provadas como milagre. Assassinatos e estupros ficaram cada vez mais raros com o passar dos anos, e também mortes em jovens.

Achei que não perceberiam as mudanças acontecendo se fosse depois de gerações, mas perceberam.

"OBRIGADA"

"QUE A BENÇÃO ESTEJA COM O SUPERIOR"

"NÓS TE AMAMOS"

E o que mais partia meu coração:

"VOLTE PARA NÓS"

Lágrimas escorriam do meu rosto. Algo estava acontecendo. E eles sabiam que eu estava aqui, que podia contatá-los, mas não queria fazer por medo do que eu havia criado.

Mas eu sentia que tinha a responsabilidade.

Então fiz mais um personagem e o mandei até o Rei, pedindo para falar com seus homens mais sabios. Mas dessa vez, não tive credibilidade.

"Você é o número 1341 dizendo ser um representando do O Superior. Se você for ele, rezo por seu perdão, mas por favor, mostre um sinal antes de me pedir para reunir meus sábios homens."

Hesitei, mas respondi.

"Amanhã, mais dois meteoros cairão em uma ilha deserta, no mesmo dia. E quando o fizerem, não duvides mais e perceba que voltei para concertar o mundo que criei".

Então quando sai com meu avatar, procedi com a simulação até o dia seguinte e joguei dois meteoros em uma ilha deserta perto de uma praia onde esses seres viviam. Milhares tinham se reunido para assistir os sinais.

Depois da queda dos meteoros, celebrações começaram. Todos os organismos tinham se reunido em volta da casa do meu personagem e faziam reverencias, aparentemente louvando aquele que o superior tinha enviado, e com medo de se aproximar.

Não sei quem estava com mais medo agora, eu ou eles. Carreguei meu personagem novamente e sai da casa. As criaturas ainda estavam deitadas no chão em reverencia, em um silêncio absoluto. Como se sentissem indignos de falar.

"Que o homem mais sábio se levante" falei.

E uma das criaturas bizarras se levantou.

"Obrigada por voltar. Fale, tens algum pedido para nós?"

Hesitei antes de falar. "Não há nada que vocês possam fazer por mim, mas precisam ser bons uns com os outros e contar para mim seus medos e desejos."

A criatura respondeu. "Sabemos que você vem de um outro mundo, e todos temos medo. Entendemos quão vulneráveis somos e o quão incompetente é nossa experiência. Por favor, nos permita ir para o seu mundo de onde criou o nosso.

Comecei a chorar diante de meu computador, enquanto respondia "Não sei como".

A criatura respondeu: "Em risco de te ofender, por favor, entenda a severidade de nossa situação. Vivendo em um mundo que é incompleto, estamos sempre em risco de desaparecer para sempre, nunca seremos vistos de novo. Nem teríamos consciência de perceber que nosso mundo chegou ao fim."

Percebi que eles não tinham consciência de que eu só tinha absoluto poder no mundo deles e nenhum fora disso. Também não sabiam que meu conhecimento a respeito do mundo deles era limitado. Eu podia ter criado por leis simples, mas essas leis deram uma realidade pura e complexa que nem eu tinha capacidade de entender.

Respondi de novo: Só tenho poder no mundo de vocês. No meu mundo não tenho poder, e não posso trazê-los para cá, pois meu mundo não tem controle.Também não tenho total entendimento do mundo que criei. Não sei o que é melhor pra vocês. Só vocês sabem, e preciso que me informem suas necessidades.

E o organismo esperou por um momento. Achei que eles iam parar de se comunicar comigo, mas o homem sábio falou:

"Você criou um mundo que é incompleto, com criaturas que não podem fugir, e não tem poder para salvá-los. Eles não tem liberdade e nenhum poder. Estamos por sua mercê e então pedimos do fundo de nossos corações: nos dê um fim."

Eu estava chorando muito, confuso por pedirem a mim o impossível. Minhas crianças pedindo para que eu as matasse.

Foi ai que notei as luzes do meu quarto piscando, pouco antes de meu computador se desligar. Gritei. Tentei ligar meu computador de novo, mas não funcionava. Liguei para a companhia de luz e me falaram que por conta de um acidente, a luz tinha sido cortada sem aviso prévio. Falaram que pagariam por qualquer dano que pudesse ter acontecido.

Desliguei o telefone e fiquei pensando. A coincidência do que acabara de acontecer era demais para se acreditar. E fiquei pensando. Se as criaturas estavam a mercê de um criador confuso, podia o mesmo ser dito de mim? E se sim, meu criador tinha acabado de me impedir de cometer o mesmo erro que ele?

Adaptado de: Creepypasta Brasil

DEUS...

QUE SEUS PESADELOS SE TORNEM REAIS

BOA NOITE

4 comentários:

  1. Amo sa creepy, ela me faz pensar se somos todos apenas um experimento de seres mais poderosos e mais inteligentes

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  2. Me faz imaginar quais sistemas o outr mundo teria x x

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  3. Quando eu li esse texto no CP BR, eu fiquei intrigado, e reforçou ainda mais minha religião.

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